sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sorvete de Gianduia e Fernando Teixeira de Andrade

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.


Ao me deparar com o trecho acima, postado no facebook, senti uma imensa felicidade, pois além da empatia tamanha - tanto que, há anos, tomei a liberdade de transcrevê-lo na minha descrição pessoal, aqui no blog -,  tenho um orgulho imenso de ter sido aluna desse grande homem. Não apenas inteligente, gentil e cativante, mas humilde, cuja meta era passar todo o conhecimento, sem resguardos ou meia palavras. Uma pessoa tão simgular que cogitar o famigerado amor platônico seria algo barato, pois, para nós, alunos e "convivas", ele era tão singular que não se encaixava em definições prévias.

Sentia prazer ao falar e olhar para o rosto dos alunos, com os olhos brilhando ao ouvi-lo contar sobre Bandeira, ou suspirando profundamente ao ouvi-lo declamar Camões, o que fazia como ninguém. Uma grande pessoa, sem sombra de dúvidas. Fernando Teixeira de Andrade, a autoria dessas palavras não pode levianamente ser atribuída a Fernando Pessoa, autor de inúmeros escritos, mas não deste, deste não!

A quem escreveu o trecho e indicou a autoria errada, não se sinta mal por isso, muito pelo contrário, é mais fácil encontrar fontes com a autoria errada do que o inverso, mas lhe garanto que este não faz parte de nenhuma das publicações de Pessoa. Agradeço, inclusive, pela oportunidade de reler, mais uma vez, as palavras dentro do todo.

Saudades, querido mestre, saudades...


O medo: o maior gigante da alma
Fernando Teixeira  Andrade

Para quem tem medo, e a nada se atreve, tudo é ousado e perigoso. É o medo que esteriliza nossos abraços e cancela nossos afetos; que proíbe nossos beijos e nos coloca sempre do lado de cá do muro. Esse medo que se enraíza no coração do homem impede-o de ver o mundo que se descortina para além do muro, como se o novo fosse sempre uma cilada, e o desconhecido tivesse sempre uma armadilha a ameaçar nossa ilusão de segurança e certeza.

O medo, já dizia Mira Y Lopes, é o grande gigante da alma, é a mais forte e mais atávica das nossas emoções. Somos educados para o medo, para o não-ousar e, no entanto, os grandes saltos que demos, no tempo e no espaço, na ciência e na arte, na vida e no amor, foram transgressões, e somente a coragem lúdica pode trazer o novo, e a paisagem vasta que se descortina além dos muros que erguemos dentro e fora de nós mesmos.

E se Cristo não tivesse ousado saber-se o Messias Prometido? E se Galileu Galilei tivesse se acovardado, diante das evidências que hoje aceitamos naturalmente? E se Freud tivesse se acovardado diante das profundezas do inconsciente? E se Picasso não tivesse se atrevido a distorcer as formas e a olhar como quem tivesse mil olhos? "A mente apavora o que não é mesmo velho", canta o poeta, expressando o choque do novo, o estranhamento do desconhecido.

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.


Voltando às panelas, esse sorvete é surpreendente; com sabor forte, que evolui intensamente com o passar dos dias, não é difícil de ser preparado, apesar de um pouquinho trabalhoso pela quantidade de etapas. Para os que não querem seguir todos os processos, tentem, ao menos, preparar o leite de avelãs; imaginem só, nesse friozinho, fazer um capuccino ou um chocolate quente com esse leite naturalmente aromatizado; indescritível...

Fora o sabor, esse sorvete possui uma textura divina, mas é importante armazená-lo em um recipiente hermético, para evitar a formação de cristais de gelo e o comprometimento do sabor. Guardado desta forma, se conserva muito tempo, e só melhora a cada prova.

Como essa receita gera “sobras” de claras e avelãs moídas, preparei um bolo de avelãs, inspirado em um bolo de amêndoas da região do Vêneto, na Itália, e servi os dois juntos, no almoço do dia das mães. O próximo post será sobre o bolo, mas vale à pena conferir o pão de avelãs, feito pela Ana, concomitantemente ao preparo do sorvete. 



SORVETE DE GIANDUIA

tempo de preparo: 1 hora + 4 horas de geladeira + 2 horas de freezer
rendimento: 1 litro, aproximadamente

- 1 xícara de avelãs inteiras;
- 3 xícaras de leite integral orgânico, ou mais, se necessário;
- ¼ xícara de creme de leite fresco;
- 60g de chocolate amargo – usei 70%;
- ¾ xícara de açúcar cristal orgânico – usei o caseiramente aromatizado com favas de baunilha;
- 3 gemas de ovos orgânicos grandes;
- ½ colher (chá) de essência de baunilha orgânica;
- ¼ colher (chá) de sal marinho.

1. Toste as avelãs no forno a 180ºC, ou numa frigideira larga, até que fiquem aromáticas, tomando cuidado para não queimarem. Se estiver em dúvida, experimente uma e sinta se já está torrada ou se ainda guarda um fundo “verde”. Quando estiverem no ponto, transfira-as para um pano de prato, dobrando suas pontas sobre as castanhas e esfregando-as para que as cascas mais duras se soltem. Separe as avelãs das cascas e transfira-as para uma panela média.

2. Nesta panela, junte o leite às avelãs e acenda o fogo à temperatura média, até que levante fervura. Após, abaixe o fogo e cozinhe por 5 minutos, mexendo. Desligue o fogo, tampe a panela e deixe o leite com avelãs em infusão por 20 minutos.

3. Posicione uma peneira forrada com um pano tipo gaze, ou um pano de prato fininho, que você só use para trabalhar com comida, sobre uma tigela grande. Bata o leite e as avelãs em um liquidificador, usando, inicialmente, a função “pulsar”, pois o líquido quente tende a explodir para fora do copo; despeje a mistura sobre o pano e deixe-o escorrer naturalmente. Alguns minutos depois, quando o líquido sobre o pano não estiver tão quente, junte as pontas do pano e esprema-o, para conseguir a maior quantidade de leite de avelãs possível. A receita pede 2 ½ xícaras desse leite; portanto, se você não conseguir essa quantidade, complete-a com creme de leite ou leite – usei leite.

4. Aqueça o leite de avelãs numa panela, junto com o creme de leite, e remova-o do gogo quando a mistura ameaçar ferver; adicione o chocolate picado e mexa bem com um batedor de arame (“fuê”), até que fique homogêneo.

5. Em outra tigela, bata as gemas e o açúcar até conseguir um creme pálido, mas ainda granuloso; adicione a esse creme ¼ da mistura de chocolate, e misture bem. Despeje essa mistura na panela, em que está o resto do creme de chocolate, misture por alguns instantes e acenda o fogo à temperatura mínima, mexendo constantemente, até adquirir a consistência de um milk-shake derretido. Não espere começar a ferver; assim que sentir grandes bufadas de vapor subindo na sua mão, está pronto. 

6. Por fim, passe o creme por uma peneira fina, junte a baunilha e o sal, e leve-o à geladeira, em um recipiente semi-tampado, por 4 horas, ou até que fique bem gelado; preferencialmente até o dia seguinte. Leve-o à sorveteira e siga as instruções do fabricante. Para quem não tem sorveteira, coloque o creme gelado no freezer por duas horas; após, retire e bata-o com um batedor de arame (“fuê”). Volte ao freezer por meia hora e repita esse processo mais 4 vezes,  então deixe o sorvete gelar por 1 ou 2 horas antes de servir. A massa é muito cremosa e fica ótima mesmo sem a sorveteira, que é muito prática, de qualquer forma. Não precisa ser tirado do freezer com antecedência se o mantiver à temperatura mínima.

3 comentários:

  1. Olá, graças a essa postagem, pude finalmente atribuir a autoria à frase que inicia o meu blog. Eu já sabia que não era de Fernando Pessoa, pois um dia me puxaram a orelha atra´ves de um post que não era dele, e por um bom tempo deixei apenas a frase solta e´a partir de hoje 21/04/2013 ela estará devidamente identificada.

    Obrigada!

    Apareça por lá: tempodeviver2

    ResponderExcluir

Comentários

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails