Apesar de épocas um tanto turbulentas, com o passar dos anos temos nos aproximado muito e descobrimos o prazer de sair para andar a pé no centro da cidade, reparar na arquitetura, nos tipos, almoçar em um lugar simples e finalizar tudo com um bom café... E assim foi o nosso almoço, em um prédio tão tradicional, que faz você viajar ao se deparar com elevadores assassinos, lustres e quadros antigos, veludo vermelho e madeira para todos os lados, tudo isso com vista para a tradicional avenida Ipiranga.
Ao que parece, os almoços com meu pai estão fadados a serem memoráveis; seja por sua raridade ou por serem antecedidos de eventos turbulentos relacionados ao trabalho, o resultado é inesquecível; uma daquelas ocasiões a ser lembrada por anos a fio, que assim não seria se fosse combinada com dias de antecedência e anotada nas respectivas agendas.
Fomos almoçar no restaurante do Circolo Italiano, inaugurado em 1977 e desde então instalado no primeiro andar do Edifício Itália, na ovacionada av. Ipiranga, ao lado do famoso Copan.
Em questão de minutos o restaurante ficou cheio, mas assim que chegamos, por volta do meio dia, uma figura emblemática me cativou; um senhor corpulento, com ares de habitué, não se deu ao trabalho de reparar na nossa chegada; compenetrado, declinava toda a sua atenção aos pratos, trazidos em seqüência, como manda a tradição. À vontade, usava o guardanapo na gola, como um bom e velho bavaglino, e em poucos minutos recebeu uma taça de prosecco, cortesia de dois senhores que haviam acabado de chegar e o convidaram para brindarem juntos. Deliciosamente surreal...
Não bastasse o ambiente, as pessoas e o serviço impecável, sem os quais a melhor comida torna-se intragável, almoçamos deliciosamente bem! Um couvert bem gostosinho, com manteiga, azeitonas, creme de queijo e antepasto de berinjela, acompanhado de uma cesta de pães - que felizmente só foi retirada quando pedimos a sobremesa -, salada de melão e presunto cru e o prato do dia, risotto de frutos do mar. Por fim, sorvete de creme com crocante e um café. Duas taças de um honesto vinho piemontês e uma conta de R$66,00 para cada um.
Quem souber de um restaurante em que se é muito bem tratado, se come bem, sem frescuras, sem medo de pedir para dividir o prato - o que deve ser feito, inclusive, pois as porções são generosas!-; se pode beber uma taça de vinho e se pode limpar o prato com o miolo do pão, quando já se sente satisfeito, mas não a ponto de recusar uma sobremesa, e tudo isso sem ter de deixar a alma como parte de pagamento pelo pecado de querer comer fora de casa, me avise, porque isso, caro leitor, não é inexistente, mas é algo raro, muito raro.
***
Pai, mais uma vez, obrigada pelo almoço, pela companhia, pela conversa, por estar permitindo que eu veja o seu lado bom, que é tão incrível; por querer compartilhar esses pequenos momentos comigo, e por ser meu grande companheiro pelo centro da cidade!
PS: eu sei que não adianta agendar, mas quando voltaremos lá? Eu vi o seu olho comprido para cima do ossobuco servido à mesa vizinha, assim como seus ouvidos bem atentos ao pedido da mesa ao lado; polenta...
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