quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

EMENTA. Morte. Tristesa. Constatação. Superação. Carinho. Bolo de Maracujá

Sinto que fiquei mais velha; aquela marquinha de expressão que chamava a minha atenção desde meados do ano passado realmente veio para ficar...


Já tenho alguma experiência para saber que esse processo é muito difícil e doloroso, com suas  inúmeras fases, culpas, altos e baixos; mas com um fim certo, o crescimento pessoal, o amadurecimento como ser humano, a velha constatação de que você não é nada, e é muito, e tudo, ao mesmo tempo, e que a dor vai dar lugar às lembranças boas. Incrível constatar que a morte de uma pessoa mexe com a vida de muitas outras, não apenas com as que eram próximas e sentirão a imensa dor da falta, das risadas, do caminhar animado e sempre positivo, da camisa azul mal abotoada, dos sapatos sempre impecáveis, do amor incondicional ao seu filho, da vontade de ter um neto, da força de vontade e do exemplo de um vencedor nato, que conseguiu muitas das inúmeras coisas que almejou.

No dia 19 de janeiro o meu sogro faleceu.

Nos últimos dias, um pouco mais centrados e conformados, começamos a praticar um exercício que muito nos tem ajudado; não nos policiamos ao sentir vontade de chorar, mas tentamos fazê-lo apenas pelo fato ocorrido e pela nossa perda. Temos de nos policiar a todo momento para não nos desesperarmos por ele não ter nos visto no pretenso auge de nossas vidas, em uma linda casa com quintal e horta, de não ter pegado no colo o neto que tanto queria, de não poder viver os anos a mais, que supomos, na nossa ingênua prepotência, ele ainda teria pela frente...



Por mais improvável que pareça, tenho cozinhado freneticamente, preparado os pratos prediletos do Ebraim, em uma atitude que mescla a insanidade da fuga dos pensamentos que tomam a mente com a vontade de animá-lo, de alguma forma... Eis que, em um final de tarde, encontro-me com quatro pequeninos maracujás remanescentes da cesta que recebi dos meninos do Sementes, na segunda semana de janeiro, e para a minha surpresa, mesmo após  três semanas turbulentas, eles me esperavam pacientemente, absolutamente maduros e deliciosos, recheados com uma poupa densa e forte, como apenas uma fruta orgânica pode ser.

Nunca tinha feito bolo de maracujá e me espantei com o sabor, o aroma e a umidade deste, principalmente nos dias que se passaram.

O bolinho fofo, a xícara de café, a animação do meu avô, o canto dos sabiás e o barulhinho dos macacos pulando entre as árvores e todas as demais belezas naturais do sítio nos relembram as coisas boas da vida. A banda passa. A vida passa. A dor vai passar...



Bolo de Maracujá
daqui
Apesar de simples, a receita postada pela Fer deu algum trabalho a ela, por não conter tempo de forno e tamanho da forma, mas, como ela mesma já havia ressaltado, o sabor compensa qualquer transtorno eventual. Felizmente, seja pela experiência prévia -ainda que alheia-, ou por eventual sorte de principiante, o meu bolo ficou perfeito, tanto no visual como no sabor!


- 2 xícaras de farinha de trigo orgânica;
- 2 xícaras de açúcar cristal orgânico;
- 5 ovos orgânicos - usei médios - gema e clara separadas;
- 1 xícara de polpa de maracujá orgânico - usei 4 pequenos;
- 100 gramas de manteiga em temperatura ambiente;
- 1 colher (chá) de extrato de baunilha orgânica e
- 1 colher de sopa de fermento em pó.

1. Preaqueça o forno à temperatura baixa e unte com manteiga e farinha de trigo uma assadeira de 30x20cm cm.
2. Bata a polpa do maracujá no liquidificador* e reserve-a.
3. Bata as claras em neve e reserve-as.
4. Bata as gemas, açúcar e a manteiga até que tudo fique uniforme; junte o maracujá batido, bata até misturar, junte farinha, aos poucos, e bata até ficar uniforme. Desligue a batedeira e misture o fermento; vá adicionando as claras aos poucos, em três ou quatro etapas.
5. Deite a massa na assadeira untada e leve-a ao forno até que o palito, quando espetado no meio  do bolo, saia limpo**.

* Como o Ebraim não gosta de pedacinhos das sementes em receita alguma, apenas passei a polpa em uma peneira e reservei algumas sementinhas para jogar sobre o bolo, antes de assar. Além de lindas deram um toque muito especial!
** No forno do sítio, que é enorme, ele demorou aproximadamente uma hora para ficar pronto, mas creio que normalmente demoraria bem menos. De qualquer forma, isso não prejudicou o bolo de forma alguma.

Um comentário:

  1. Sabrina, eu sinto muito. Infelizmente conheço a dor dessa perda. Eu penso que a falar que passa é mentira, mas a gente se acostuma com a ausência e a preenche rendendo várias e silenciosas homenagens...
    Entendo muito bem também esse cozinhar frenético...ele aparece em momentos de muita tristeza e de muita alegria prá mim.
    Bolo lindo e delicioso, tenho certeza!
    Um beijo grande e fiquem bem!

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