sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11.11.11; há vinte e quatro anos ela espera pelas onze horas do dia de hoje…



Baixinha e toda miúda, com o invejável volume frontal que não me coube, sempre exibe o indefectível sorriso branco, o longo cabelo castanho e os olhos contornados de preto. A minha menina cresceu, e além de vistosa, fala e escreve bem, dirige com a segurança das mulheres da nossa família – que também se esqueceu de bater a minha porta! -, é corajosa, segura e determinada; mas incrivelmente manhosa, mandona e cheia de dúvidas, como toda boa escorpiana.

Apesar de sempre ter tirado notas bem acima da média, foi na faculdade que demonstrou todo o seu brilho e potencial. Que fase intensa, quanto crescimento; nunca a vi estudando tanto, sempre envolta por livros e textos, com o cenho franzido e o ar de cansaço, mas sem esmorecer ou se contentar com mediocridades. Perdeu a entoação birrenta e aprendeu a abordar temas com propriedade, não prepotência; passou da “mas a minha professora disse que não é assim” para alguém que consegue ouvir o outro. Profissional competente, segura do seu conhecimento, sabe que terá de estudar pelo resto da vida; sabe, também, que não sabe de nada, mas não pensa em usar esse mote para fugir do trabalho.


Sempre nos disseram que somos parecidas, mas nunca consegui enxergar isso; para mim ela sempre foi a ratinha, a magrinha, a mimadinha, a queridinha do papai. Quilos a menos, anos a mais e papéis de queridinha de um e abandonada pelo outro eventualmente trocados me fizeram ver como somos parecidas. Tenho que me desculpar com ela por tantos julgamentos, por todas as vezes que a caracterizei de forma superficial e leviana, esquecendo-me de que ela não nasceu minha irmã, mas uma pessoa que passou por poucas e boas, assim como eu, e também sente dúvidas, medo e inseguranças.
           
Dirijo-me, agora, diretamente a você, roedora querida; não apenas para cumprimentá-la, mas também para retomar um assunto inacabado. Fiquei imensamente comovida ao saber que quase fui escolhida como tema para a tese do seu curso de especialização, mas foi inevitável rir ao pensar que você, que sempre foi a rata, estava querendo me transformar em uma! Pois bem, cara Luci, não creio ser uma louca tão interessante, mas confesso que o Dr. Jekyll dentro desse Mr. Hide se sacudiu frente a idéia de ser estudado; portanto, publicamente, autorizo-lhe a usar minhas lembranças mais remotas e doloridas, assim como as mais felizes, e mesmo as aparentemente inofensivas, em futuro estudo maluco que queira realizar, desde que, frente a eventual movimentação monetária, por patrocínio ou publicação, a mesma seja partilhada irmanamente, como manda nosso parentesco. 

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