sábado, 26 de fevereiro de 2011

Presente de uma fada à rainha da falta de educação e receita de um brioche com passas...



Há muito tempo, em uma terra não tão distante, uma rainha tomou coragem e pediu a uma fada rara, muito talentosa e especial, que lhe tecesse uma pequenina toalha mágica, que realçasse seus quitutes quando fossem dispostos à mesa do rei. A fada, educada e bondosa, aceitou o pedido com felicidade, e humildemente disse que seria uma honra poder presentear uma rainha que fazia quitutes tão especiais; em que pese ainda estivesse um pouco envergonhada com a audácia de seu pedido a um ser mágico, a rainha ficou muito feliz, e se pôs a imaginar se faria algo doce ou salgado à doce fada.

Os dias se passaram e a fada comunicou à rainha que sua toalhinha mágica estava pronta e que poderia ir  buscá-la quando quisesse; a rainha, por sua vez, preparou o bolo dos anjos, leve e alvo, que levava apenas claras, acompanhado de pequeninos bolinhos sortidos, delicadamente colocados ao seu redor, como se fossem pequeninos raios de sol surgindo por trás das nuvens. Entretanto, algo de torpe acorreu naquela semana, e o tão esperado encontro não aconteceu. Elas conversaram e combinaram de se encontrar na próxima semana, mas era dezembro e a rainha, assim como todos os demais mortais, dizia-se muito atarefada com os preparativos para as festas de final de ano e  com as encomendas reais que lhe haviam sido feitas. Por esse motivo a rainha foi postergando o seu encontro com a fada, que pacientemente sempre entendia...

Os dias se transformaram em meses, e em que pese a rainha nunca tenha se esquecido de sua encomenda, por algum motivo não conseguia concretizar esse encontro, mas o ano passou e com ele ocorreram fatos que fizeram a rainha se lembrar de que a vida é o hoje, o agora, que ela não pode postergar indefinidamente coisas que quer fazer, principalmente encontro com pessoas queridas e um despretensioso chá da tarde com bolo para colocar em dia as novidades entre o mundo das fadas e o dos homens.

A rainha atrapalhada se deu conta do que havia feito e rapidamente assou pequenos bolinhos especiais para a doce fada, e mandou um de seus mensageiros avisá-la que uma pequena caixa seria deixada à porta de sua casa, mas que não era preciso entregar a toalha, pois a rainha queria pegá-la pessoalmente. Os bolinhos foram entregues, assim como a toalha, e em que pese as coisas não tenham saído como planejado, a rainha está feliz como ainda não tinha estado desde o início do ano; apegou-se à toalha e não consegue passar por ela sem dedilhá-la, sentindo a textura de cada detalhe... O chá ainda não aconteceu, mas a rainha espera que ele ocorra, em breve, para que possamos ter uma tarde "felizes para sempre"...



Não bastasse ter o mais alto título do reino da falta de educação, cumulei-o com a coroa do reino das gafes. Cheguei a sua casa às 21:30h, para deixar os fatídicos bolinhos, e me desesperei ao descobrir que no seu prédio não havia porteiro; sofri durante suados minutos para solucionar o dilema "tocar ou não tocar", mas depois de todo o ocorrido não iria dar mais um furo; mais um fora, talvez, mas mais um furo, não! Senti um fio de esperança ao me deparar com duas  moças entrando no prédio; imaginei que elas eram grandes amigas da Cecília, e que não se incomodariam em deixar a pequena caixa na frente do seu apartamento, mas não, tive de retornar à realidade e tomar coragem para fazer o que havia me proposto a fazer, enquanto questionava mentalmente "você é uma rainha ou uma rata???". Finalmente estendi minha mão trêmula e toquei a campainha; um moço atendeu o interfone e prontamente disse que desceria com uma toalha. Enquanto gaguejava e tentava dizer que não precisava descer com a toalha acabei me enrolando e a conversa de interfone ficou naquele "quê?", "han?"; achei melhor recolher um pinguinho de educação que me restava, receber o moço com um sorriso no rosto, entregar os bolinho e agradecer a toalha; tudo isso, é claro, enquanto me convencia de que conseguiria preparar algo à altura da doce fada, que retornaria àquele lugar para tomarmos um chá,  como havíamos combinado inicialmente, e que toda a má impressão seria desfeita.



Egocentrismos e chororôs à parte, vocês não conseguem ter a dimensão da beleza dessa toalha; cada detalhe, cada recorte, cada cor... Sensibilidade de uma artista incrível, que já me fez matutar em como vou tomar coragem para pedir a ela que me faça outra, pois sei bem de pessoas que morreriam ao receber um pão embrulhado nessa toalha.

Cecília, querida, muito obrigada pelo presente incrível; voltei para casa observando cada detalhe e esperei que a manhã despontasse para que pudesse fotografá-lo, para que nenhum detalhe se perdesse. Desculpe essa  rainha das gafes, da falta de educação e da desorganização; saiba que seu presente me fez muito feliz e espero poder recompensá-la em breve!

Cecília Borelli




KOUGLOF (Brioche com passas)
Tempo de preparo: 30 min. + 4 horas de fermentação + 40 min.
Rendimento: 6-8 generosas porções

(massa)

- 100ml leite integral orgânico;
- 3g fermento ativo seco (ou 10g fermento fresco);
- 300-400g farinha de trigo orgânica;
- 1 colher (chá) sal;
- 30g açúcar cristal orgânico;
- 4 ovos orgânicos pequenos;
- 150g manteiga em temperatura ambiente + para untar a forma;
- 90g uvas passas douradas - usei pretas.

(finalização)

- 3 colher (sopa) água;
- 1 colher (chá) água de flor de laranjeira;
- ½ colher (chá) essência de amêndoas;
- 10g manteiga derretida e
- açúcar cristal orgânico ou de confeiteiro para polvilhar.

1. “Lave as uvas passas e escorra-as. Reserve.
2. Aqueça ligeiramente o leite e misture ao fermento, dissolvendo-o.
3. Numa tigela grande, misture a farinha, o sal e o açúcar. Abra um buraco no meio e derrame o leite com fermento, misturando aos poucos com a ponta dos dedos.
4. Junte os ovos, um a um, misturando bem. A massa deve ficar incrivelmente grudenta e pegajosa, mas você deve ser capaz de juntá-la num montinho. Caso ela esteja muito líquida, vá acrescentando farinha pouco a pouco, até que esteja na consistência correta.
5. Despeje numa bancada limpa e sove, levantando a massa com os dedos e jogando-a de volta na bancada, até que sua textura fique mais uniforme e comece a grudar menos (mas ainda esteja úmida).
6. Junte a manteiga amolecida e sove a massa novamente. Recolha a manteiga que escapar, amassando-a e incorporando-a, pacientemente. Eventualmente a massa ficará uniforme de novo e muito lisa e macia, mas ainda ligeiramente grudenta. Incorpore as passas.
7. Com a ajuda de uma espátula ou um raspador de massa, transfira a massa molenga para uma tigela. Cubra com um pano e deixe fermentar por cerca de 1 hora.
8. Com o punho, afunde a massa (se ela não tiver crescido muito ainda, não tem problema), voltando-a ao tamanho original, cubra novamente e leve à geladeira por 2 horas.
9. Transfira a massa para uma bancada enfarinhada. Você verá que ela ficou bem mais firme e fácil de manipular depois do tempo da geladeira. Forme uma bola. Afunde um dedo enfarinhado no centro da bola e, com a ajuda dos outros dedos, abra o buraco, até que a bola se transforme numa rosca que caiba em sua forma.
10. Unte com manteiga uma forma de Kugelhopf, uma Bundt Pan ou uma forma comum de furo no meio com cerca de 23cm de diâmetro e 10cm de altura e transfira a rosca para ela. Cubra com um pano e deixe fermentar por mais pelo menos 1 hora, até que dobre de tamanho.
11. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Asse o brioche por 40 minutos ou até que esteja dourado e um palito inserido no meio saia limpo. Desenforme imediatamente e deixe esfriar sobre uma grade.
12. Misture a água, a essência de amêndoas e a água de flor de laranjeira e pincele generosamente sobre o brioche. Então pincele com a manteiga derretida, polvilhe com o açúcar e sirva”.


Observações: Antes de mais nada, tenho de confessar que a pneumonia não tem me conferido muita força, então sovei a massa na batedeira, com a pá, e o resultado foi excelente.

A receita original pede amêndoas inteiras sem casca na finalização, então apenas posicionei-as (com suas casquinha) no fundo da forma, antes de colocar a massa, e elas ficaram lindas quando o pão foi desenformado, apesar de não quererem permanecer nos seus lugares por muito tempo. Recomendo que se use as amêndoas, elas ficam levemente torradas e fazem uma grande diferença nas mordidas em que estão presentes. 

Quanto à forma, descobri que não tenho sequer uma forma de pudim em casa (:o), e assei o lindo brioche em uma forma de pão de forma, de silicone, de 20x11x7,5cm (comprimento, largura e altura, respectivamente).

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Bolo de limão


Atendendo a pedidos dos meus amigos do Sementes, posto uma receita antiga, que já fiz três vezes, e nunca tive problemas. Esse bolo da Patrícia fica com uma  textura um pouco mais densa, por conta da manteiga, mas  é delicado e leve,  com um aroma incrível de limão. Como é simples e de poucos ingredientes, a qualidade de cada um influencia; portanto, boa farinha, bons limões, bom açúcar e boa manteiga. Margarinas e manteigas mais ou menos, nem pensar!


Bolo amanteigado de limão 
do TK

- 220g de manteiga sem sal, derretida e fria;
- 330g de açúcar refinado;
- 2 ovos orgânicos;
- 250g de iogurte espesso*;
- ¼ xícara (60ml) de suco de limão;
- 1 ½ colheres (sopa) de raspas de casca de limão;
- 2 xícaras (280g) de farinha de trigo e
- 2 colheres (chá) de fermento em pó;

Cobertura:
- 1 ½ xícaras de açúcar de confeiteiro peneirado;
- 1 ½ colheres (sopa) de suco de limão;
- 1 ½ colheres (sopa) de água e
- raspinhas de casca de limão, para decorar.

1. Pré-aqueça o forno a 160ºC; unte uma forma de bolo inglês de 10x20cm ** e forre o fundo com papel manteiga.
2. Coloque a manteiga e açúcar numa batedeira e bata para misturar. Acrescente os ovos, um a um e bata. Junte o iogurte, o suco e as raspas de limão e bata para incorporar. Peneire a farinha e o fermento sobre a massa e misture bem.
3. Despeje a massa na forma preparada e leve ao forno por 1hora e 15 minutos, aproximadamente – faça o teste do palito.
4. Retire do forno e deixe esfriar na forma.
5. Prepare a cobertura: misture bem todos os ingredientes numa tigela; acrescente algumas gotinhas de água, se necessário.
6. Desenforme o bolo numa travessa ou prato de servir, cubra com a cobertura e salpique as raspinhas de limão para decorar.

* Para torná-lo espesso, a Patrícia indica sorar o iogurte durante na véspera, deixando-o em um filtro de café, dentro da geladeira. Quando uso o iogurte orgânico caseiro, que fica bem denso, pulo essa etapa sem problemas. 

** A Patrícia usou uma forma de 10,5x27cm e a massa quase transbordou; a minha é um pouco maior e rendeu o bolo principal e dois pequeninos.  

***

A foto abaixo foi da primeira leva que fiz essa receita, há muito tempo atrás...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

EMENTA. Morte. Tristesa. Constatação. Superação. Carinho. Bolo de Maracujá

Sinto que fiquei mais velha; aquela marquinha de expressão que chamava a minha atenção desde meados do ano passado realmente veio para ficar...


Já tenho alguma experiência para saber que esse processo é muito difícil e doloroso, com suas  inúmeras fases, culpas, altos e baixos; mas com um fim certo, o crescimento pessoal, o amadurecimento como ser humano, a velha constatação de que você não é nada, e é muito, e tudo, ao mesmo tempo, e que a dor vai dar lugar às lembranças boas. Incrível constatar que a morte de uma pessoa mexe com a vida de muitas outras, não apenas com as que eram próximas e sentirão a imensa dor da falta, das risadas, do caminhar animado e sempre positivo, da camisa azul mal abotoada, dos sapatos sempre impecáveis, do amor incondicional ao seu filho, da vontade de ter um neto, da força de vontade e do exemplo de um vencedor nato, que conseguiu muitas das inúmeras coisas que almejou.

No dia 19 de janeiro o meu sogro faleceu.

Nos últimos dias, um pouco mais centrados e conformados, começamos a praticar um exercício que muito nos tem ajudado; não nos policiamos ao sentir vontade de chorar, mas tentamos fazê-lo apenas pelo fato ocorrido e pela nossa perda. Temos de nos policiar a todo momento para não nos desesperarmos por ele não ter nos visto no pretenso auge de nossas vidas, em uma linda casa com quintal e horta, de não ter pegado no colo o neto que tanto queria, de não poder viver os anos a mais, que supomos, na nossa ingênua prepotência, ele ainda teria pela frente...



Por mais improvável que pareça, tenho cozinhado freneticamente, preparado os pratos prediletos do Ebraim, em uma atitude que mescla a insanidade da fuga dos pensamentos que tomam a mente com a vontade de animá-lo, de alguma forma... Eis que, em um final de tarde, encontro-me com quatro pequeninos maracujás remanescentes da cesta que recebi dos meninos do Sementes, na segunda semana de janeiro, e para a minha surpresa, mesmo após  três semanas turbulentas, eles me esperavam pacientemente, absolutamente maduros e deliciosos, recheados com uma poupa densa e forte, como apenas uma fruta orgânica pode ser.

Nunca tinha feito bolo de maracujá e me espantei com o sabor, o aroma e a umidade deste, principalmente nos dias que se passaram.

O bolinho fofo, a xícara de café, a animação do meu avô, o canto dos sabiás e o barulhinho dos macacos pulando entre as árvores e todas as demais belezas naturais do sítio nos relembram as coisas boas da vida. A banda passa. A vida passa. A dor vai passar...



Bolo de Maracujá
daqui
Apesar de simples, a receita postada pela Fer deu algum trabalho a ela, por não conter tempo de forno e tamanho da forma, mas, como ela mesma já havia ressaltado, o sabor compensa qualquer transtorno eventual. Felizmente, seja pela experiência prévia -ainda que alheia-, ou por eventual sorte de principiante, o meu bolo ficou perfeito, tanto no visual como no sabor!


- 2 xícaras de farinha de trigo orgânica;
- 2 xícaras de açúcar cristal orgânico;
- 5 ovos orgânicos - usei médios - gema e clara separadas;
- 1 xícara de polpa de maracujá orgânico - usei 4 pequenos;
- 100 gramas de manteiga em temperatura ambiente;
- 1 colher (chá) de extrato de baunilha orgânica e
- 1 colher de sopa de fermento em pó.

1. Preaqueça o forno à temperatura baixa e unte com manteiga e farinha de trigo uma assadeira de 30x20cm cm.
2. Bata a polpa do maracujá no liquidificador* e reserve-a.
3. Bata as claras em neve e reserve-as.
4. Bata as gemas, açúcar e a manteiga até que tudo fique uniforme; junte o maracujá batido, bata até misturar, junte farinha, aos poucos, e bata até ficar uniforme. Desligue a batedeira e misture o fermento; vá adicionando as claras aos poucos, em três ou quatro etapas.
5. Deite a massa na assadeira untada e leve-a ao forno até que o palito, quando espetado no meio  do bolo, saia limpo**.

* Como o Ebraim não gosta de pedacinhos das sementes em receita alguma, apenas passei a polpa em uma peneira e reservei algumas sementinhas para jogar sobre o bolo, antes de assar. Além de lindas deram um toque muito especial!
** No forno do sítio, que é enorme, ele demorou aproximadamente uma hora para ficar pronto, mas creio que normalmente demoraria bem menos. De qualquer forma, isso não prejudicou o bolo de forma alguma.

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